ROCKY & CRIS

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A SUAVIDADE DA MULHER MAIS RAPIDA DE ARARAQUARA

A suavidade da mulher mais rápida de Araraquara

No último final de semana do dia 26/02 , em visita a Interlagos, onde aconteceu a 1ª etapa do Pirelli SBK, tive o prazer de conhecer a única representante da ala feminina no campeonato.
Cristiane Trentim está na categoria SuperBike Pro Light e compete com sua SRAD 750.
Lógico que o Moto com Batom não poderia deixar de registrar a ilustre presença dela na competição e saber mais sobre sua vida.
Cristiane foi mega simpática conosco e muito atenciosa, ela nos concedeu uma bela entrevista contando tudo!
Cristiane, conta pra gente, quando você começou a andar de moto?
Olha, na verdade, eu sempre gostei de moto, comecei a andar quando eu conheci meu marido ele tinha uma rd350. Eu tinha uma paixão e meus pais não permitiam que eu andassse de moto. Comecei a dar umas voltas por incentivo do meu marido, me apaixonei, me encantei, na verdade, eu roubei o gosto dele pra mim, porque aí toda hora eu queria ta andando e sem carta, porque meus pais não me deram a habilitação pra andar de moto, justamente pelo medo de algo ruim acontecer, mas depois que eu me casei  eles não se acharam mais no direito de proibir,  então acabaram aceitando contra a vontade.
Comecei pilotando uma CG, mas não gostava, porque gostava de moto de maior cilindrada. Minha primeira moto grande mesmo foi uma GSX F 750, passei 3 anos com ela, depois fui pra SRAD 750 e já tem 6 anos que estou permanecendo no mesmo tipo de moto, sou apaixonada, aliás, doente por moto, sempre fui! Mas tive oportunidade mesmo de andar, depois que me casei, pelo fato do meu marido já ter a moto.
Tem 10 anos que comecei a andar de moto, com as motos maiores tem 6 anos, esse ano é meu primeiro campeonato, já corro em autodrómo, mas apenas em track-day, nada profissional, esse será o 1º ano como profissional.

Quais as dificuldades que você teve no início, quando começou a pilotar normalmente nas ruas e também, quando começou a competir? Existem preconceitos?
Embora todo mundo diga: “Eu não tenho preconceitos, é bonito, é admiravel….” nem sempre é verdade!! Tem os que admiram e até mesmo apoiam, mas essa é a grande minoria.
A mulher é sim, considerada uma rival independente do esporte que ela escolha, porque alguns homens ainda acham que mulher foi feita pra ficar dentro de casa ou por falta de capacidade.
Então, por mais que eles tentem não demonstrar preconceito, existe sim! E só não existe tanto quando a mulher é dos outros, porque se fossem deles a barreira seria muito maior. Não adianta, homem não aceita mulher em esporte totalmente masculino. Acho até, que na rua o preconceito é maior, geralmente eles gostam de sair em grupos de homens e quando se deparam com uma mulher que pilota, existe uma certa resistência.
No meu caso em especial, até o presente momento não me deparei com esse tipo de preconceito nas pistas muito pelo contrario, por onde vou sou respeitada e admirada por todos os pilotos.
Você está competindo sozinha, por conta própria, ou você participa de alguma equipe?
Não estou sozinha. Sou eu e o Rodrigo Rocky, o número da moto dele é 43.

Cristiane Trentim e seu parceiro de equipe Rodrigo Rocky

A equipe chama-se Racers 43, na verdade a equipe é montada por ele e recebi o convite dele para estar correndo na equipe. Foi ele que me ensinou tudo o que eu sei nas pistas, porque o comportamento nas ruas e nas pistas é completamente diferenciado, não é a mesma coisa. Para quem acha que tocar moto na rua e tocar moto no autódromo é a mesma coisa, muito pelo contrário. Você tem que ter uma técnica, você tem que aprender muita coisa pra chegar aqui, tudo que eu precisei, todo o respaldo, toda a dedicação, foram dias e dias, horas e horas corrigindo posturas que você adquire nas ruas e que é difícil tirar. Então foi com ele que eu aprendi, ele foi mais que um professor, mais que um amigo, mais que um parceiro de equipe, eu devo tudo a ele. Porque a equipe em si, era só ele e a partir desse ano ele me convidou para estar correndo na sua equipe, que está retornando as pistas, pois o ano passado ele parou na segunda temporada. E para mim, foi uma satisfação imensa, não só por aprender, como participar da equipe dele, porque hoje, somos uma equipe, mas o mérito da equipe existir é todo ele!

Cristiane Trentim e seu parceiro de equipe Rodrigo Rocky

E na questão financeira, como você está? Você tem patrocínio?
Não temos patrocínio. Questão financeira é muito dificil, porque no Brasil o motociclismo é mal visto e às vezes nem visto. O Brasil é o país do futebol, todo patrocínio que existe é para o futebol. Porque passa em rede aberta, passa toda quarta, todo domingo… Todo mundo vê futebol. A motovelocidade muita gente gosta, é um custo alto, mas todo mundo imagina que seja um deslumbre. Se juntar todos os jogadores de futebol e pegar o que apenas um ganha, não é metade que gastariam num campeonato nosso.
Então nossos maiores patrocinadores hoje são: a Ótica Dois Irmãos, de São Carlos, que é da mãe do Rodrigo Rocky e também, as empresas Kota Usinagem de Américo Brasiliense, Conta giro e AGM motores que são de Araraquara, mas são cotas mínimas, dá apenas pra nós fazermos as viagens, mas manter pneus, inscricão e estadia, essas coisas nós não temos, então a gente tá se limitando a mexer na moto pra se manter no campeonato, ou você mexe na moto – em torno de 60.000 a 200.000 – dependendo do que você precisa pra deixar a moto  competitiva para o campeonato, para que as pessoas vejam que a moto é boa e quererem patrocinar, senão para gente também fica difícil, talvez eu faça só uma etapa do campeonato dependendo do patrocínio, porque nós acabamos disponibilizando um dinheiro que não temos. Infelizmente, é assim que funciona.
No dia a dia, você costuma fazer passeios longos com sua moto, você participa de algum motoclube?
Na verdade não costumo fazer passeios longos, não participo de nenhum motoclube, piloto somente eu, meu marido e o Rocky, o meu parceiro de equipe. Reunimos em um posto de gasolina que tem na cidade de Araraquara e às vezes em um posto de São Carlos para falarmos sobre motos, assuntos motociclistiscos. Eu particulamente, não gosto de usar muito a moto pra andar na rua, porque no autódromo você tem uma segurança diferenciada, você também corre riscos, mas na rua temos carros, óleo na pista, caminhões, são muitas as limitações que a moto de rua traz. A potência que a moto tem, muitas pessoas mentem dizendo: “eu ando de boa” , não é fato! A moto que tem uma cavalaria muito grande, você sempre quer experimentar o que ela tem para te oferecer e a rua é um risco, então por isso que optei pelo autódromo, que é o lugar correto de acelerar.
Tem risco? Tem, mas no autódromo, você tem lugares pra cair, se você cair, vai cair sozinha, sem medo de ser atropelada por outros veículos, o autódromo tem uma estrutura totalmente diferente das ruas. Nas ruas, você nunca sabe quem está atras de você, às vezes o tombo na rua não te causa nenhuma fatalidade, mas vem um atrás e acaba te atropelando. Eu tenho moto de rua, mas por enquanto, ela não está tendo finalidade nenhuma depois que optei por andar no autodromo.

A pequena fã, tietando Cristiane

Como é a relacão entre você e seu marido? Ele te apoia nessa sua paixão pela motovelocidade?
Meu marido me apoia, sempre me dá a maior força, ele está sempre comigo nas competições, nos treinos e quando não pode estar entende que somos uma equipe onde o respeito é o mesmo com ou sem sua presença dele.
O Rodrigo é meu parceiro de equipe, estou sempre com ele, e na ausência do meu marido é ele quem faz valer o respeito, pois levamos a sério, mais que uma equipe, somos uma família, a gente sai na quarta ou quinta para as competições e depois meu marido vem para prova, pois nem sempre ele pode sair no mesmo dia que nós.

O Super Marido Luiz!

A moto que está competindo, uma Srad 750, é adaptada pra pista. Fora da pista, qual é a sua moto?
Fora da pista, também é uma srad 750. Tenho uma de pista e uma de rua, essa de pista é adaptada, mas ela não tem nada, é original. Não possui nenhum acessório de competição, nem mesmo escape full. Ela não tem nenhuma preparação, é uma moto como se fosse retirada hoje da concessionaria e colocada na pista, justamente por falta de condições para estar mexendo nela, porque a gente tem que definir algumas prioridades: eu me mantenho no campeonato ou eu equipo a moto. Para ser competitiva precisa sim, de patrocínio.
Essas duas motos são meus hobbies, uma na pista, a outra na rua!

Cristine e sua moto de rua, outra SRAD LINDA!


Em relação a roupas, acessórios e equipamentos para o público feminino, na sua opnião, o mercado está atendendo a demanda?
Não está atendendo, está faltando sim! Você olha nos sites, liga nas lojas, todos falam: “Claro, temos sim..”,mas quando digo que a numeração é 42: “ah não, é 46 pra cima” ou então eles dizem: “ah, mas eu tenho um masculino que pequenininho, cai super bem em vc…”. O mercado tem que entender que nós mulheres, temos formas diferentes dos homens, temos curvas que homens não têm, então não fica adequado, fica quadradão no corpo e para você andar, não é só o fato da beleza, todo mundo olha e fala: “Não quer andar porque não é bonito”, não é isso, mas a proteção foi feita para o homem. Nós, às vezes temos braços mais curtos, que é o meu caso, pernas mais curtas, comprimento menor, então não bate com as proteções com aquilo que deveria proteger. Então o equipamento que seria de segurança pode, às vezes, até te machucar, digo isso por experiência própria, porque usei uma proteção mais larga e quando caí quem deveria me proteger foi o que me machucou. Sofri muito para encontrar os acessórios obrigatórios, como luva, macacão e capacete, tive que importar algumas coisas.
Nós não temos opções, meu macacão atual, tive que mandar fazer. E agora tá chegando de fora outro que eu ainda nem sei se vou conseguir ficar bem nele, porque eu fui pelo tamanho que todo mundo achou que iria dar certo, pela minha estatura e pelas medidas e agora, só provando! Infelizmente é assim que funciona.
Qual o seu maior medo hoje?
Não participar do campeonato por falta de patrocínio.
Sua maior realização:
Subir no pódium! Essa seria minha maior realização e acredito que, de todos que vivem nesse meio.
Seu lugar preferido para estar:
Na pista!! Fora dela, passo a maior parte do tempo com o Rodrigo mexendo nas motos deixando pronta pra entrar na pista.
Mas meu lugar predileto ainda é o Autódromo!
Uma mensagem às mulheres que estão começando no meio motociclistico seja por hobbie ou no profissional:
Não tenha medo de competir entre os homens, eles não são bichos de 7 cabeças, na pista somos todos iguais e respeitadas da mesma forma, temos direitos iguais aos deles, e deveres tambem, o importante é não ter medo e não achar que não é competente pra isso. Comece no seu limite, mesmo que seu limite não seja o limite mínimo de um homem, você vai começar, se tiver força de vontade, faça!! Você é do tamanho do seu sonho. Então, esse é meu maior conselho: Você tem vontade? Faça da sua vontade o seu sonho realizado! Nós temos homens cabeleleiros, homens em todas as áreas, porque não uma mulher motociclista? Se for pra andar a 80 km, 100 km… Não importa, para tudo existe um começo!
Curiosa para ver a Cris em ação??? Não deixem de prestigiar a 2ª etapa do Pirelli Mobil SBK – no Autódromo de Interlagos no próximo dia 27 de Feveireiro!

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Fotos:  Nivaldo Querino /// Arquivo pessoal